sexta-feira, 16 de março de 2012

Há mar

"O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua."
Drummond

Porque eu que nem sei nadar ando sempre a contemplar as águas? Qual o motivo destas naus perdidas em mim, qual o sentido destas gáveas e mastros? Diz-me o porquê dessas rotas que me traçam... Logo eu que não faço mapas, que os entrego às traças. E nos meus pulmões sopram velas, e o meu peito se fez proa, e no meu casco dizeres, manuscritos, haicais... E no meu leito, cais... Sereias caem. E dos meus braços lançam redes... E os meus pés tocam náufragos... Onde a foz destes rios oníricos? Que detritos levam? Velam qual lirismo?
Deve ser porque o mar também não sabe nadar... e por isso fica dum lado ao outro a oscular as beiras, sem saber onde deitar. Há tanta coisa ainda pra escrever... Há mar.

 
"Mas você me navegou mares tão diversos
E eu fiquei sem versos, e eu fiquei em vão"
Chico Buarque de Hollanda

3 comentários:

  1. Seu texto me fez lembrar uma passagem bastante reflexiva da obra "Palomar", de Ítalo Calvino, "Palomar na Praia". Se puder ler, vai ver como é diferente o modo como as ondas se revelam para nós. Depois me conta o que achou...

    Abraço do Pedra do Sertão.

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  2. Um mar de lirismo esse jogo poético.
    Me encanta a cada verso (feitos em minha cabeça).

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"Respeitar o trabalho do outro consiste justamente em submetê-lo à crítica mais rigorosa" (José Borges Neto)