segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Dança

À Julieta em movimento
Tu és como nuvem que vem de longe...
demora,mas quando chega...
devasta, devassa, arrasta...
inspira, expira, pira...
arde, morde, flameja...
como chama, beija, clama...
abraça... enfim dança;
Como chuva que vem de longe,
chega mais molhada...
guerra apaziguada,
paz embevecida,
caótica, enfim dança;
Se te vem a tristeza visitar a vida
transforma em poesia que passa
_A tristeza? _A poesia?
_Não sei, só sei que passa,
como chuva que vem de longe,
a nuvem se dissipa
e se forma mais adiante,
Dança!

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Gauche


Errei pelas ruas e conheci os amores mais efêmeros. Numa esquina me apaixonei perdidamente e noutra já amava a lânguida face de uma cortesã sobre a pele do papel. Compus trovas, elegias às mulheres mais impuras. Sátiras às mais nobres. Desordenei o discurso. Fiz juras de amor interno, injúrias, desfiz os planos. Fechei bordéis, abri caminhos. Roubei jardins, interpretei os barcos. Saqueei aldeias e dediquei fenômenos da natureza. Invoquei os santos, as giras. Blasfemei em bocas devotas. Devotei em bocas devassas. Fiz oferendas. Dancei com o vento, mudei o curso das águas. Senti escorrer a tinta pelas veias e confundi vida e obra, guerra e paz, hamor e umor... Escrevi meu livro por aí. Não me preservei. Vivi, amei a mim mesmo como se fosse o último.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Forasteiro

"Eu, sempre que parti, fiquei nas gares
Olhando, triste, para mim..."
Mario Quintana

E a vida assim se fez trilha sonora de filme francês: amores platônicos, casos literários, amor eterno que se desfaz perambulando pelas ruas, roubando flores, contando os trocados no bolso. Banco de rodoviária, o olhar na janela do ônibus, coração embaçado na vidraça, dentro o nome dela, dela quem? São tantas as palavras que se esvaem...

Jardins efêmeros, cortejos desfeitos, sentidos dilatados, dilatado verbo sentir... É o preço que se paga por ousar viver além do que se escreve, quando em detrimento da Teoria há um coração que pulsa, quando deixa-se o escritor para ser humano...