sexta-feira, 28 de maio de 2010

O Poeta

No começo era a palavra que se disputa... Veja bem, ela é que se disse primeiro, não fui eu. Eu sou, há penas, o poeta. O que faço é fabular...
Tu, moça bonita, que se imaginou comigo na infância (e por isso me conhece bem), bem sabe o quão se faz árdua a minha intelecção. Este mundo é coercitivo, o que me obriga à despojar dos recursos de semiótica para dissimular...
Para ser um bom poeta tem que ter algo de mau. É fingir ser você mesmo e usar nomes alheios simplesmente porque rimam. Para ser um bom poeta, não precisa se explicar.
Ao poema, não resta ser nada além de um arquétipo do desejo em meus devaneios concupiscentes, ficar ali, estereotipado no papel como quem clama por qualquer vã interpretação. Então vem o leitor e o liberta:
_Vai, poema teimoso, ser gauche
na vida!
E mesmo que meu corpo pertença à uma só mulher, meus vocábulos voluptuosos discorrerão nas bocas de homens e mulheres alheios...
Pois bem, andam dizendo por aí que sou poeta. Então, vou sibilando, fingindo ser isso mesmo e me iludindo com o que dizem os outros que iludi primeiro... ao tempo em que 'giro nas calhas de roda à entreter a razão' faço das sublimações dizeres não demasiado sibilinos para olhares mais vorazes... e das aliterações crio orgasmos fugidios nos poemas constantemente inacabados...
Se chego em casa tarde, minha mulher nem reclama mais ao constatar minhas mãos calejadas pela pena, um odor ébrio em minha boca ou alguma marca escarlate das entrelinhas na gola da camisa. Já deduz onde estive.
Escrevo pra não fumar. Escrevo porque não sei dançar...nem dizer. Escrevo como quem afaga um corpo no papel... já nem sei mais que relações promíscuas estabeleço com as palavras, são todas minhas amantes, minhas putas.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Dígitos

_
Desculpe
Se te escrevo
Palavras lidas
Que tenho
a ingênua
Pretensão

De que sejam
P
R
O
F
U
N
D
A
S
Neste espaço
Tão raso
E esdrúxulo
.
.
.
Embora escreva mal
Ainda
Assim escrevo

melhor
do que falo

(e não tenho
Dinheiro
Pra falar
T
A
N
T
O
!)
Estou perd
_ido!_
oado?

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Vícios de Linguagem


O vício do poeta é o verso:
o parto da palavra cálida,
o do verso é a rima:
a revolta da pena,
antes pálida
e alienada pela rotina,
doravante ébria
e desvirtuada
sinestesia da retina,
em único verso
apenas
a pena
pensa !
_______ Aliteração conveniente ou reflexão do universo ?

sábado, 15 de maio de 2010

Poetas Mal.ditos

Acendo um ___________________________verso
entre um e outro cigarro que_______________vendo...
Esqueço a ____________________________rima
entre um e outro conhaque que______________sirvo...
Compro______________________________dinheiro
entre um e outro sentimento que____________sorvo... Ontem já ia alto em meus devaneios, quase privado dos meus sentidos já tão tênues, que só o tato é que me faz ainda humano...já ia louco, quase santo...sinto muito,mas eu sinto tanto...
...gosto de dizer que não tinha gosto,pois nem se o olfato aprendesse a lamber, qualquer sinestesia seria vã...tão vã quanto meus devaneios...uma cabeça tola à pensar o mundo(como se ele coubesse nela)...
e o mundo nem desconfiava que estava sendo pensado, continuava passando displicentemente ao redor...ridículo, mas somente eu sabia que estava sendo.

_Será que existe algo além dos solilóquios?

_Talvez algum olho menos piogênico, mas de igual modo laivo...

_ Quem será o portador do medo que guarda do outro: o Ser ou o Devir?

_Queria estar alheio à tudo isto...queria não ser!

Às vezes me sinto como um velho recostado na janela à desdenhar do mundo...porém, na maioria delas quem fica na janela é o mundo. Sei bem enternecer o coração quando é preciso...hoje não há de ser preciso... não vejo precisão em nada.
Procrastinar-me-ei na própria covardia, relembrando minhas maldades, minhas saudades insondáveis, sobretudo minhas maldades, para que haja algum sentido de justiça nisso tudo...antes que eu perca os sentidos...
Toda justiça deste mundo eu barganharia com a morte...
mas o medo da MORTE continua VIVO, é cor vadia!

sexta-feira, 14 de maio de 2010

terça-feira, 11 de maio de 2010

Poema Inacabado

Leitor,
favor de mim nada esperar:
Eu não vou rimar o ar com o mar,
não quero a rima vulgar!
Estou cansado destes verbos já tão gastos:
falar, pensar, chorar, amar...
NÃO! Eu não vou rimar!
eu não vou rimar saudade com vontade, tesão com coração...
como nestas cansativas canções no rádio
à distrair a cidade e o cidadão,
onde a seguinte estrofe é sempre presumível,
Senso comum de rima em mim não é cabível !
Eu quero a Aliteração : orgasmo consonantal,
Um neologismo inesperado declamado em [red]cor.vadia
por uma boca esguia em uma estrofe inacabada,
Da retina eu quero a sinestesia,
orgia textual,poesia na madrugada!
Eu gosto do que ninguém entende
e o que todo mundo deduz,
Poeta é o que te seduz
e não o que tu compreendes !

(...)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Hieróglifos

[ne
grito]
[ver
me
(o)lho]
con
cre
tu
des
vi
ci(o)
ssi
tu
(or)
di
ria
s...
[hispânico]
_diz_cor
d_ânsia
ver
bal
-não necessariamAnte!

quinta-feira, 6 de maio de 2010

ver S.O.S.


TEM
SÃO
:

LOU(não tem)CURA
.
.
.
verS.O.S não tem
.
.
.
cabIMENSO
na gaveta
(rima a concupiscência
outra quimera
cal
ci
nada