E eu, tão mal acostumado a simular histórias alternando estes algoritmos* e sinais de pontuação ao meu bel prazer, agora me desarmo outra vez, em carne nua na tua frente e não sei fingir nem ao menos poesia. E eu, outrora acostumado a simular orgasmos no papel, fazer das palavras meretrizes e receber afagos de hermenêutica, críticas risíveis e olhares suspeitos rua afora, me encontro deste modo: sem saber o que dizer nem rimar. E eu, que embasado em teoria divagava sobre a valoração acerca da estética da conjunção carnal e colocava um palavrão na boca de moças rezadeiras, acreditando ser isso o suprassumo da poesia, agora me sinto um pecador sem noção de pecado. Juro que queria dedicar-te um poema desses de umedecer o tecido durante a leitura, mas confesso que não sei deitar teu corpo sobre o papel e discorrer nas linhas, entrelinhas da tua prosa fria. Soa como algo proibido, sempre deste modo soa e não sua. Nem minha. O mais que consigo consiste em transfigurar-te em metáforas tão herméticas que se tornam reveladoras da minha natureza vil. Não mais que isso! Mas prometo sem cumprir: ainda te componho uma trova, tão despudorizada que abrirá para mim tua página ainda cálida.
*Um algoritmo é um conjunto finito de regras que fornece uma sequência de operações para resolver um problema específico.