domingo, 11 de março de 2012

Mito

“Sou eu o poeta precário que fez de fulana um mito” Drummond

Contavam já três dias que eu pisava terra firme. Eis que te vejo. E te vejo de um ângulo que não podes me ver. Fico ali escondido a observar tuas feições demoradamente. Que haveria em ti de tão poético não fosse esse lirismo que te concede a minha pena? Esse descontentamento em permanecer na superfície dos fatos. É preciso enredá-los. Para o meu gozo te fiz palavra.

Se me fosse possível ficar assim te olhando a vida toda eu me tornava poeta de vez. Quantas naus terão perdido o rumo nessa tua boca que o meu veleiro se atreve a desvelar? Esse teu jeito de amarrar o cabelo, como quem faz do pescoço um cais seguro onde embarcar meus dentes. Teus olhos, pequeninos olhos, mas de um olhar tão profundo que me é difícil ancorar qualquer entendimento. E o sorriso, mesmo não sendo o mais belo em que naveguei, ponho-me a lapidá-lo para que se torne um porto. E desse jeito místico eu vou te inventando...

Ah fulana, se eu pudesse revelar aqui o teu nome. Ma te ensinei a ler poesia, te ensinei a se confundir, de modo que podes achar-me.

3 comentários:

  1. Muito bom meu amigo! fazia um bom tempo que eu não comentava posts. Não por falta de qualidade dos textos lidos, mas sim por falta de tempo! Gosto de vê-lo produzindo sempre!!!!

    Paz e bem irmão! auf wiedesehen

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  2. Quem será esta fulana?
    Será que é de carne e osso?
    Será que é uma ficção?
    Ou será que não passa de uma ilusão?

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"Respeitar o trabalho do outro consiste justamente em submetê-lo à crítica mais rigorosa" (José Borges Neto)