“Havia achado, sempre, que morrer de amor não era outra coisa que uma licença poética.”
García Márquez in Memórias de minhas putas tristes.
Errei pelas ruas e conheci os amores mais efêmeros. Embebido pelo espírito do vinho, declarei-me lírico nas gares. Soprei ébrio dente-de-leão na varanda e, ao contemplar a leveza da queda, perdi-me nos labirintos do nome dela. Acordei no embalo da rede e já era outro quadro que estava pendurado na parede. Inalei o aroma esfumaçado da rubiácea matutina. Ancorei meu barco na beira da morena, mas o mar me chamava noite adentro. Despedi-me e fui plantar tulipas, orquídeas e amores-perfeitos na madrugada, para colher violetas efêmeras na enseada durante o arrebol. Recebi as mais poéticas ameaças de morte e guardei-as na lapela com orgulho e desdém. Partilhei corpos na vala profunda de um soneto. Colhi tâmaras nos rochedos e, nos pomares, esmeraldas. Despetalei-me em mal-me-queres, mas o bem querer foi regresso de retalhos costurados entre estrelas. Bailarina me veio no abraço, enlaço de ondas e o riso a vogar. Sibilei com doçura uma cantiga ainda virgem. Fui ver a vida a pé e deixei entrar setembro pela janela. Vi com tristeza a mesurada trova que compus ser noticiada no jornal em linguagem denotativa. Pra viver comigo há que ser poema. Pra viver comigo tem que ter bem mais que o verbo no âmago, tem que se abeirar... dilatar-se até perder as sílabas e só então, já sem asas nem respostas, precipitar-se no desconhecido vale (a pena?). Pra viver comigo, pedi-me em casamento. Vivi, amei a mim mesmo como se fosse o último a saber...
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