Capa do Álbum "Aldir Blanc - 50 anos"
É sempre o mesmo sussurro pendurado na janela: ALUGA-SE.
Ela abre a porta e coloca a primeira consoante no corredor, espreita... e só
então deixa a vogal à mostra. Cá dentro o infindável cigarro entre os dedos vai
brasando. Em todo retorno há algo de
derradeiro, talvez motivado pela nossa concepção quase metafísica dos
pormenores... Mas a troca de olhares é conjunção rompendo o devaneio como fosse
um hímen. É sabido que ela veio outra
vez pedir emprego na minha escrita. A vida fora deste recinto é
confortavelmente denotativa, enfadonhamente denotativa. E palavra que se preza
se disputa. E bem sabem os leitores que, confinada neste antro, palavra que sê
puta, não desprezo. Porém, tal caso exige uma dose de ponderação. Peço que me
sirva e enquanto se curva buscando a garrafa, faço dela pronome oblíquo,
complementando-a com meu pronome reto, para seu gozo e deleite literário. É
preciso esclarecer que o sujeito da oração sou eu, ainda que falido e ébrio, há
um resto de prosa na algibeira.
Traga mais uma garrafa desse bom vinho... A velha e boa língua portuguesa ainda causa prazer. Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três... E se disputa a palavra nua, sedutora língua que se virginifica pela criatividade.
ResponderExcluirBrilhante!
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