À Maria eu dedico estas singelas palavras, com todo o respeito na desmedida do impossível dentro deste recinto aberto, recito que, embora merecedora de poemas em forma fixa, com versos metrificados e tudo o mais que um verdadeiro mentiroso seria capaz de compor, vai ter de contentardes com essa maledicente prosa poética, é tudo o que tenho.
A Maria, antes mesmo de se confessar artífice da palavra, deixou-se levar pela prosa fiada deste humilde discípulo que, embasado em Teoria, atreve-se a discorrer na prática o que lhe é concedido. Dos subsídios que provêm de Maria, vai tecendo timidamente sua literatura sem-vergonha, vã filosofia da linguagem. Integrante desse esquema de corrupção de palavras, algo que os linguistas chamariam uma desconformidade entre significantes e significados, a Maria é tudo, menos inocente. Se o poeta é um rufião, a Maria é a proprietária do bordel. A Maria é a medida racional das passionais orações às quais o suposto escritor se devota.
Amaria tudo o que não fosse mero vômito de idéias no papel. Inspirar não seria o verbo comumente por ela empregado, a Maria é um tanto quanto cética no que se refere a esses mitos românticos. Prefere acreditar no trabalho estético a que se dedicam esses marceneiros da palavra, sempre lapidando aqui e ali a estrutura, não se dão por satisfeitos tão facilmente. A todo canto levam seus instrumentos semânticos, sintáticos, lexicais...
Eis que emprego todas as conjunções adversativas para tentar entender que a Maria não se faz mais presente. Uma lágrima verte agora e faz de conta ser riacho, percorre o meu rosto rumo ao papel que se encontra entre minhas mãos. Juntam-se a ela outras e logo parece ser um rio caudaloso desaguando na foz do poema, borrando as letras e então se torna difícil trabalhar a linguagem de maneira literária... É como se depois de dois anos carregando a tua bagagem, ficasse tu nas gares e tenho eu de seguir sozinho, meio sem rumo ainda, perdido, perdido como um pobre bicho com os sentidos alterados. Foste a melhor companheira de viagem que já tive.
Amar ia, de coração este poema, não fosse que a gente finge não ter um quando tem nas mãos a pena. E também isso eu aprendi com a Maria. Mas meu pranto não é literatura, é vulgarmente sentimento, saudade anunciada de escutar teus dizeres toda semana ecoando em minha alma, teus saberes apressando a minha calma.
Ah Maria! Vai-te pela estrada da vida, ama, ria e segue o teu caminho que não é mais o meu. Tens aqui um admirador que por ti acreditou ser poeta, que bebeu da tua fonte de sabedoria e agora se submete ao crivo da tua severa análise, Maria.
"Ah, Maria, Maria
ResponderExcluirSerá que você sorriu
Lembrando daqueles dias"
Belas palavras Juliano...
Também me sinto sem rumo, sem vontade.
Sem quem me faça acreditar no ouro de minhas palavras.
Quando já existe o talento natural, a sensibilidade latente e o verbo fácil, que escorre pela pena, fica fácil: basta assoprar devarinho no ouvido e tudo começa a fluir. E vc é isso tudo a flor da pele! Essa é a mais linda homenagem que já recebi na vida! A crítica não é severa, nem poderia... deixei-me levar pela emoção e as lágrimas, vc sabe, turva a razão. Mas para que razão neste momento? O texto está perfeito! "com cada coisa em seu lugar". obrigada, meu bem. sds
ResponderExcluirPreciso dizer que vc sempre foi o olhar atento que eu procurava no meio de outros não tão atentos assim. Seu olhar ouvia com atenção e me devolvia a resposta que eu necessitava para continuar a discorrer o meu verbo livresco. Enquanto vc o interpretava como cobrança (das leituras não feitas rsrsrs), ele apenas estava buscando um interlocutor atento para dar sentido ao que eu fazia.
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