Glósóli
– Sigur Rós
Era uma vez um
ladrão. Andava sempre desocupado e sobrevivia das aspas roubadas. Dedicava-se
em tempo integral às inutilidades. Não bastava ser larápio, ainda era
mentiroso. Não servia lá pra outra coisa que não fosse à poesia.
Foi quando ele não
tinha lá muito que fazer que inventou a moça. De tanto que não tinha, se punha
a cultivar agrados literários na enseada pr’uma das amadas. Daí que a moça
passou... Levava nas mãos uma máquina de parar o tempo e parou-o uma, duas...
tantas vezes sem consentimento. E quando o tempo, contrariado, voltou a bater
na beira, ela perguntou:
“Que são?”
“Poemas.” – disse o moço.
“E pra que servem?” – quis
saber.
“Fechai os olhos” – mas a moça nada
viu nem ouviu, ao que embarcou numa nuvem e foi brincar de parar o tempo em
outros mares.
(...)
parece ser mais doce do que se ver, do que se pensa, talvez quando se experimenta..
ResponderExcluirMt bom
ResponderExcluirAusência
ResponderExcluirEu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
Vinícius de Moraes