sexta-feira, 26 de abril de 2013

Conto (Parte III)

Glósóli – Sigur Rós


O dia raiou e quis a moça uma fita para pôr no cabelo, da cor anil. O gatuno então perambulou pelas ruas, depois pelos prados, visitou outras aldeias, invadiu castelos e nada daquela cor encontrar. Extenuado da longa peregrinação, parou pra descansar no leito de um rio, ao que olhou pra cima. Não teve culpa, era preciso enfeitar os cachos bonitos da moça.

Após quarenta e quatro ocasos, voltou ao seu planeta trazendo aneladas aos dedos várias fitas dos mais diversos tons, exceto o anil. Na extremidade de cada uma das fitas havia um balão da cor correspondente. Dispô-los no ar para perfeito encantamento da moça. Aeróstatos lilases, esverdeados, escarlates... satisfaziam o seu alado olhar e distraíam-na enquanto o moço colocava uma fita em seu cabelo, da cor do seu pedido. Mal sabia a moça... Maravilhada com o mosaico de balões, não deu por si que o céu transparecia. Nem ao menos percebeu que o moço também não tinha cor. Como um palhaço que espalha o riso, mas tem por detrás do nariz aquele vazio existencial de que são acometidos os verdadeiros artistas.

(Fim)

3 comentários:

  1. Vi meu vazio pintar-se em cores...

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  2. Fazia tempo que não vinha por aqui...Estou aproveitando as férias para ler alguns blogs de amigos...Bom, adoro pipas no céu...já brinquei muito com elas, por isso o conto e o poema com essa temática me cativaram. Abraço do Pedra

    www.pedradosertao.blogspot.com

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"Respeitar o trabalho do outro consiste justamente em submetê-lo à crítica mais rigorosa" (José Borges Neto)