segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Promessa

Perdoe-me a cafonice desse estilo literário, essa postura de conquistador barato. Eu não valho a pena que uso. Apaixono-me todo dia por uma palavra diferente. Estas moças desconhecidas têm a singular beleza de um idioma alheio, poético por si só. Embora não as compreenda, me basta ouvir a pronúncia.
Perdoe-me as linhas que deixei em branco na tua vida. Nunca me declarei poeta, meus versos de outrora não contavam métrica e nem forma fixa, não se trata de um trabalho esteticamente perfeito. Em vez disso essa prosa que a gente leva, saliva que a gente preza, proezas que a gente louva. Eu finjo escrever pra ti, tu finges que não leu e fica tudo entre nós. Poderia usufruir da oralidade, mas tímido e careta que sou, prefiro ir roubando o teu coração do bolso aos poucos e sem o teu consentimento, com a engenhosidade de um aliciador de palavras, palavreador de mulheres.
Se for afeita aos longos romances, não tenho muito a oferecer. Meu texto é breve e direto, porém intenso. Sabe que sou um homem sem futuro, que o consumo todo agora, em prolongadas e inebriantes baforadas. Mas se quiseres abrir mão dos velhos cânones da literatura, te ofereço a minha asa pra pular do precipício e viver tudo de uma só vez. Se cansada estiver das entediantes narrativas, te prometo o coração pulsando, sangue timbrado nas folhas e tinta correndo nas veias até que a vida nos prepare. Venha fazer vida em meu bordel e sairá daqui grávida de poemas, contos e crônicas. E após nove meses de árduo trabalho editorial, lapidando estrutura, revisando ortografia, incoerência e coesão, a nossa obra será publicada como legado de um caso literário. E é deste modo arcaico que tudo se transforma em verdadeiras mentiras mal contadas, bem escritas.

2 comentários:

  1. Essas suas moças têm fugido de mim. No mais, finjo que não leio.

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  2. A verdade é uma questão de opinião e de persuasão, e a linguagem é mais importante do que a percepção e o pensamento.

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"Respeitar o trabalho do outro consiste justamente em submetê-lo à crítica mais rigorosa" (José Borges Neto)