‘É preciso que a gente tente de todas as mentiras, é o que estou fazendo; pois, de todas as maneiras, só a poesia é verdadeira’.
É mais ou menos assim: Eu, Caio F. e Manoel de Barros, ladrão que rouba ladrão, mentirosos dos mais sinceros, aspas são levadas ao bolso e ali ficam à espera de devolução por parte d’alguma moça que se compadeça e queira fazer justiça com os próprios lábios.
Complicado escrever quando já se vive além do que se escreve. E quem me vê assim como as pedras que rolam pode até desconfiar que eu não tenho coração, que tudo se cria e do mesmo modo se termina no atrito entre a pena e o papel. Vamos deixar tais elegâncias de lado, pra sermos mais pós-modernos tudo se dá agora no ruidoso contato entre a extremidade dos membros humanos e a superfície das máquinas, destituído de qualquer romantismo ou nostalgia, cabe a fidúcia que lhes é característica. Como um arfar de bicho selvagem as mãos procuram as teclas e vão escolhendo uma a uma as letras que lhes convêm. Alternando consoantes e vogais a vida vai sendo tecida, entre gemidos, mordidas e sussurros. É assim que funciona a literatura contemporânea, há pressa escorrendo por entre os dedos, teu corpo é acariciado em prosa viva à flor da pele e sem nenhuma cerimônia. E quem haveria de imaginar que tais sutilezas seriam compostas por essas calejadas mãos, tão habituadas a descompor as palavras. Mãos tortuosas, assim como os caminhos, desconfio que seja algum mal específico do qual são acometidos os poetas, e muito embora eu não seja um, tanto me atrevo a fingir que acabo pagando na mesma moeda.
E como senhora mia enquanto lia percebeu: por trás dessas técnicas de produção de textos improdutivos, há sim um coração que pulsa, há vida além da teoria literária. Antes do poeta há um escritor, e ainda antes do escritor há um homem, antes do homem um menino, que além de escrever também beija, chora, ri, deseja e sente. Descansar do mundo nos teus braços, era tudo o que eu queria. Mas tu não me concedes mais que os teus olhos, os quais linha a linha ofegantemente vão descendo, até oponto G, e como se orgasmassem, aqui repousam.
Esse poeta que não se diz poeta já o é pela humilde modéstia em que tece sua prosa montando esse tecido poético de que se veste de maneira simples e do qual faz uso para proteger-se da afirmação de sê-lo...
ResponderExcluir...se aquecendo com as palavras que o enlinha e delas fazendo abrigo. Assim como um mendigo ao se agasalhar com o trapo de pano que possui; Iludidos ambos na real mentira de que suas vestes, de diferentes tecidos, sejam, um dia, suficientemente eficazes na tarefa de cessar-lhes o frio. Um frio quente. Latente. Que queima cada lágrima que poderia em dado momento cair, mas que evapora por entre a confusão do ser e não afirmar ou afirmar e não ser um alguém que não é visto como deveria. Mas como deveria? Se cobres a si mesmo com esse tecido curto, incapaz de saciar-lhe o frio e que lhe esconde ao mesmo que lhe mostra. (...)
ResponderExcluirhum =)
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