Entendo agora o arcaísmo
da lavoura. Trata-se de uma sociedade patriarcal, em que os valores são
arcaicos e bem delineados. Não há espaço para diálogo nas rupturas. Qualquer quebra
paradigmática é feita em desordem – pois é a ordem uma semente que germina, um
ramo que nasce e cresce afeito à terra que o sustenta; mas que arrancado dela
toma novas formas.
Seu Antenor Pereira
Beck e a lareira se confundem. O velho conversa com o fogo numa linguagem só
deles. As chamas envolvem a lenha com a terna paciência de oitenta e quatro
anos queimados com sabedoria.
No domingo, a
segunda geração existente fora reunida. Nove ao todo. Metade se preservara na
lida campeira, a outra migrara para províncias circunvizinhas, mas os valores
permaneceram intactos. Na terceira geração os códigos sociais começavam a ser
reescritos. Na tradicional roda de chimarrão, um dos netos – com um orgulho
pioneiro que o fazia andar com a perna amostra no frio inverno gaúcho – exibia a
primeira tatuagem da família.
As minhas marcas
eram muito profundas, imperceptíveis a olho nu. Indícios de uma nova poesia,
por mãos que provieram da terra, vogaram por mares distantes e agora, passadas
duas décadas, reaveem a mesma terra
outra vez.
A cidade se abrira
em enleio e me fizera poeta, notívago das ruas e das mulheres do cais. O cerrado
me envolvera em poeira e libertara da forma. Os pampas promoveram o reencontro
com minha natureza túmida, rude, agrária. Entre as mãos camponesas de Seu
Antenor no plantio de grãos e legumes e minhas ávidas mãos da colheita dos
versos não havia tanta diferença: era tudo uma ciência da terra, era todo um
cultivo de amor.
Boa Vista do Cadeado/RS,
8 junho 2014.
...Família...
ResponderExcluirFamília é lugar
onde convivem os diferentes:
um é risonho, outro tristonho;
um é exibido, outro inibido;
um é calado, outro exagerado;
um é cabeludo, outro testudo;
um é penteado, outro descabelado...
Família...
Família é assim:
nunca é possível contentar,
pois onde há diferenças,
haverá desavenças.
como a todos agradar?...