Who wants to play with me - acryl - por Theo Reijnders
Senhor, eu tive uma mulher...
Por mil diabos, é como se o
texto travasse comigo uma batalha voraz. É como se a indomável criação,
malfadada e ingrata, não se submetesse mais à pena do criador. Oh maldita e
inóspita palavra!
Empresto meus ouvidos ao
vendedor de livros, ao vendedor de flores, e me dou conta das agruras do mundo.
Vou até o boteco mais sujo, peço uma cerveja, procuro no bolso um cigarro e me
dou conta de que não fumo há uns três anos e pior, pior, senhores: é tudo tão
descritivo, mera denotação! Pior, senhores, é tudo tão clichê! Sim, sim,
admito: estou na moda, senhor. Eu, que sempre velho e blues atravessava a pé as
madrugadas desta cidade, como um boêmio lobo de estepe ou mesmo um cachorro sem
dona. Eu, que sempre pedia um café e me demorava nas gares e como um dedicado cronista
das inutilezas acompanhava a geometria das linhas traçadas pelo voo dos pombos
da praça do mercado central. Eu, que me detive no cais a ouvir conversas e
violas dos estivadores, em troca de cachaça e alguns versos etílicos que nem
cheguei a publicar. Este velho operário semântico mal
assalariado pela hermenêutica burguesa e disforme de
palavras já tão desgastadas pelo emprego informal neste prostíbulo há muito abandonado... está
na moda. A poesia está na moda. Mas ninguém cuida dela como a gente fez esses
anos todos, enquanto outras coisas estavam na moda.
Praguejo a todos os cantos:
cuidem de outros contos, coloquem outras coisas na moda, me deixem em paz,
diabos! Pois sabem todos que em breve a abandonarão sem ter-lhe acrescido nada.
Então ela virá, toda prosa no meu colo e eu terei de curar-lhe as chagas e
fazê-la verso outra vez.
Bravo !
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