Para a prosa que nos meus
braços se fez poesia
Sinto
muito, mas este súbito afastamento é necessário. O que queres de mim, eu não
devo mais te conceder com tanta frequência. Tornou-me um vício. Voluptuosa que
és, deseja ser escrita o tempo inteiro. Queres a minha pena sem cessar. Libertino
que sou, quero bem mais do que estas prosas que só me retardam o gozo. Quero a tua
página aberta com veemência, quero santas fogueiras ardendo em praça pública,
quero a inquisição do teu olhar e morrer de uma só vez como os mártires. E o
meu nome será conclamado nos templos com fervor, como aquele que morreu por... Portanto
não devo mais te deitar no papel com fins meramente literários, destarte só o
faço com segundas intenções.
Não
que me falte atributos poéticos para tanto. Na verdade não faço mais do que o
trabalho de parto em teu ventre. És tu quem carrega os poemas no útero, desde
que te engravidei semanticamente. Mas se gostas tanto assim de ser escrita, sugiro
que procure outro profissional das letras, quem sabe um escriba, talvez um
revisor ortográfico, ou mesmo um jornalista... Esses coitados criarão meus
filhos bastardos pensando serem deles, com menor qualidade estética obviamente,
dada a incapacidade de transcenderem a significação básica das palavras,
denotativos e moralistas que são. Poetas não, poetas como eu já nascem
póstumos; não encontrarás um sequer que ainda viva. Poeta bom, meu bem, é poeta morto.
Não
entendo o motivo do pranto, se foste tu mesma quem quis assim. Te oferendei meu coração ainda pulsando,
minha alma despojada como espólio e meu corpo nu no altar da insensatez. Pior
do que isso foi descaracterizar a minha escrita. Aceitei-te como palavra única
em meu bordel, te concedi o meu verbo e que fizesse uso da minha pena como bem
entendesse. Tão logo se satisfez com a catarse, abandonou-me sem mais interpretações.
E sem mais encomenda textos como se eu não tivesse outras palavras pra
escrever. Meu preço agora é justo!
Mas trata de secar a lágrima, a despeito deste sublime escritor a
inventar outras palavras, existe ainda aquele poeta sujo, vil, cego e burro que
segue cultivando silenciosamente o teu jardim, a te fazer agrados de
hermenêutica e dar à luz aos versos que simulam cortejos, estantes e estórias improváveis.
Até logo.
Que rude.
ResponderExcluirSuas palavras são como as mãos que procuram rapidamente a pena para introduzir a palavra.
ResponderExcluirSão como versos que se descrevem lenta e libidinosamente sobre a folha.
Seu sentimento é, decerto, latente em demasia...
"Seu sentimento é, decerto, latente em demasia..." (muito bom)
ResponderExcluirDentre os (quase todos) que li, um dos melhores, se não o melhor por vc já escrito.
Muito bom!
(Ana*)
. Ny, isso também é preciso.
ResponderExcluir. Rafa, lindo o comentário! Sempre um estender-se! (Tem 5 horas que tu foste embora e eu ainda tô borracho!)
. Ana, sem mais comentários. Modéstia é uma das virtudes que mais odeio no cristianismo!
Desculpem-me a ebriedade dos comentários, devo somente escrever-vos!