Hoppípolla
– Sigur Rós
Era tempo de pipa
quando se reconheceram no olhar um do outro. Há alguns meses que o ofício
abnegado do antigo jardineiro era colorir as tardes da moça. Plantava-lhe na
face um breve sorriso que germinava alegria. E antes do pôr-do-sol ela lhe pôs
um apelido engraçado: “entregador de arco-íris”, ao que ele sorriu também com
rubor. Cativou-o. Passava as tardes a enfeitar a vida da moça. Forjava matizes,
roubava nuances, inventava-lhe em cores várias e outras cambiantes.
Certa vez deixou o
entardecer cinzento só para que ela trajasse um vestido alaranjado em noite de
lua azul. Noutra despojou o mar de suas riquezas para colocar-lhe no busto um
colar de conchas rosadas. E os transeuntes, coitados! Fê-los todos nublados
para que no chão se formasse um espetáculo de sombras coloridas para deleite e
gozo sagrado da plateia ímpar. Houve ainda aquela vez em que desnudou bosques e
matas sem fim, mas valeu a pena ver o brinco esverdeado pendurado na orelha da
moça e o arco-íris dobrado no céu pra vê-la com mais nitidez, irisando-lhe o
rosto.
Porém não tardava o
poente, dado que a moça levava o sol nas costas. Adentrava as noites a compor
ensaios sobre ela. Destinava-lhe recifes, corais, canções simplórias. Havia
sempre um verso caído no portão esperando a sua chegada em casa após o
trabalho. E ele foi-se apaixonando pelo invento.
(...)
Matizes.
ResponderExcluirNuances..
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